OPINIÃO POLÍTICA | Matilde Batalha (PAN)
As crianças merecem comer com mais qualidade nas escolas!
Há muito que as nossas crianças deixaram de comer alimentos confecionados na escola. Passaram a consumir refeições cuja feitura foi adjudicada a empresas que elaboram através do método Cook and Chill, que têm em conta as necessidades nutricionais e calóricas das crianças, mas cuja frescura, qualidade e sustentabilidade não parecem estar garantidas na sua máxima extensão. As refeições em contexto escolar são uma componente do trabalho que o Município de Mafra desenvolve ao nível do pré-escolar e primeiro ciclo, mas futuramente se estenderá aos outros níveis de ensino.
A escolha por desativar as cozinhas nas escolas terá sido mobilizada por motivos económicos, mas também por questões higiénico-sanitárias e de preservação dos alimentos, mas será a melhor?
O custo mais elevado que as refeições escolares possam vir a ter caso sejam confecionados na escola com alimentos frescos e locais, terá como retorno a saúde das crianças (com diminuição da fatura da saúde, numa lógica de prevenção primária), a sustentabilidade e educação ambiental, a estimulação da economia local e criação de empregos. Esta foi uma proposta apresentada na Assembleia Municipal de 27 de fevereiro de 2020, tendo sido rejeitada.
Em 2050, a FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO, 2015), estima que seremos 9 mil milhões de pessoas no mundo, pelo que será preciso produzir mais 60% de alimentos. Não basta utilizar transportes públicos, reduzir o uso de água e reciclar. A forma como nos alimentamos pode determinar o futuro do planeta. É urgente ter atenção ao que levamos para a mesa, pensar em como os alimentos foram produzidos, quantos quilómetros viajaram até chegar ao prato, se foram processados, como estão embalados, pois todos estes fatores têm consequências do ponto de vista ambiental.
A relação entre alimentação sustentável e alterações climáticas é evidente e Mafra que se pauta por este combate deveria incluir também no seu plano de combate à descarbonização e alterações climáticas a forma como presta os serviços de alimentação que são da sua responsabilidade, dando o exemplo.
Concordaremos todos que a sustentabilidade na alimentação tem por base o conceito óbvio de quanto mais próximo de “casa”, mais fresco. A escolha de refeições escolares que respeitem este princípio com valorização óbvia do produto local através da entrega diária de produtos frescos, nomeadamente hortícolas, frutícolas, pão, carne e peixe, faria toda a diferença. A pegada ecológica estaria também reduzida no transporte dada a proximidade geográfica dos fornecedores. Esta seria uma aposta importante e que implica que a confeção tenha de ser realizada nas cozinhas das escolas.
O concelho vizinho, Torres Vedras, tem um Programa de Sustentabilidade da Alimentação Escolar que foi já reconhecido pela Comissão Europeia. As refeições escolares confecionadas pelas cozinhas municipais de Torres Vedras têm de forma crescente e gradual integrado alimentos de origem biológica, designadamente frutas e hortícolas. Devemos seguir os bons exemplos.
A agricultura biológica surge como uma boa resposta para produzir alimentos, não só mais saborosos, como mais ricos do ponto de vista nutricional, isentos de compostos tóxicos e de maior sustentabilidade ambiental. Aumentar a quantidade deste tipo de produtos nas refeições escolares seria muito benéfico para a saúde das crianças e toda a comunidade escolar, tendo como consequência também a promoção da produção sustentável de alimentos a nível local, na medida em que este tipo de produção é enriquecedora para os solos.
Faria na nossa opinião também sentido a criação de uma cooperativa de agricultores locais para o abastecimento dos refeitórios escolares e das IPSS locais, existindo benefícios ao nível da criação de empregos na agricultura, garantia de escoamento de produtos hortícolas, adaptação de ementas ao tipo de produtos sazonais, diversidade alimentar, garantia de alimentos mais frescos e diminuição do desperdício alimentar.
Não será já altura de as nossas crianças pararem de comer comida congelada nas escolas? De apostar em produtos alimentares da melhor qualidade? Não merecem as nossas crianças o melhor?
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